Esta semana, a nova ministra de Políticas
para Mulheres, Eleonora Menicucci, afirmou que o aborto é uma questão de saúde
pública. Enquanto isso não se torna realidade, o Código Penal Brasileiro no Art.
124 prevê detenção de um a três anos para mulheres que praticam ou praticaram
aborto.
Por questões diversas é
muito improvável que alguém seja condenado por este ato, pois
geralmente é praticado em casas ou clínicas clandestinas, o que dificulta a
abertura de inquérito e até mesmo uma investigação bem sucedida.
Ainda não existem estatísticas confiáveis,
mas sabemos que milhares de mulheres morrem todo ano por não obterem
atendimento devido na rede pública de saúde, após a retirada do feto. Por pura
questão política, nossos representantes preferem se omitir com medo de perder
votos, impossibilitando uma discussão ampla sobre o assunto.
Nas redes sociais é fácil encontrar afirmações recriminando
o aborto, utilizando argumentos frágeis do tipo
"é fácil pedir a descriminalização do aborto quando você já
nasceu". Verdade seja dita, a proibição de cometer um ato, não o impede de
ser feito. Isto acontece com o uso de entorpecentes, com o homicídio, suicídio ou
até em práticas aparentemente inocentes, como jogar lixo na rua.
Tais pensamentos retomam ao código do
talião, conjunto de leis que determinava punições de acordo com o crime que
cometia. Por exemplo, se alguém comete um assassinato, logo, ele deveria ser
assassinado também. Claro que não estou comparando aborto com assassinato, pois
a definição de ambos no dicionário é bem distinta, entretanto,
negar assistência a quem praticou aborto é condenar uma mulher a
morte sem ao mesmo julgá-la.
No
mundo do contraditório é possível perdoar desde trafico até o mais cruel
genocídio, mas a punição para as mulheres que decidiram ser dona do seu corpo
continua sendo uma prática pouco cristã, a lapidação em praça pública, com a
diferença que a execração hoje é realizada de forma virtual. Creio que os
inquisidores eram mais corajosos.
A curetagem é uma cirurgia delicada e tem
como função principal limpar os retos do aborto. Este método é direito
universal das mulheres que deve ser praticado por profissionais treinados. Ainda
assim, mesmo após a descriminalização do aborto, as vitimas serão sempre as
mulheres pobres, submetidas às precárias condições do SUS.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓtimo texto Uil... parabéns!
ResponderExcluirJá ansiosa pelos próximos...=)
Quando (e se) a sociedade se der conta de que o corpo feminino é propriedade dela e de mais ninguém, talvez essa realidade mude.
ResponderExcluirÓtimo texto. Voltarei mais vezes.