quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O complexo do "brasileiro vira-lata" de Moreira Franco





O ministro da Secretária de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco, teve nesta terça-feira uma idéia sensacional que dividirá  a história do Brasil em antes e depois de Franco. O mesmo afirmou que para compensar a escassez de profissionais qualificados, especialmente nas áreas técnicas, é necessário facilitar a vinda de estrangeiros gabaritados para o país. Bingo! Não sei por que ninguém pensou nisto antes. Veja aqui a matéria completa. 

Antes de tudo, fazer uma afirmação dessa natureza deveria ser um caso de demissão sumária sem direito a defesa, quiçá, extradição para Antártida. Esse é um clássico caso de complexo de vira-lata descrito muito bem no livro de Aurélio Schommer, História do Brasil Vira-Lata, que apesar de inúmeros defeitos serve muito pra explicar este tipo de pensamento.

O complexo de vira-lata consiste basicamente na idéia de que o Brasil é “uma terra abençoada por Deus, mas o povo...”, povo este formado por portugueses oportunistas, escravos desqualificados e índios preguiçosos. A verdade é que os brasileiros nunca foram preguiçosos, visto tamanho trabalho de transformar uma terra selvagem descoberta em 1500. O oportunismo português uniu as terras americanas ao resto do globo, como também ampliou o território brasileiro acabando com o Tratado de Tordesilhas. Nem necessito descrever o quanto trabalharam negros e índios.

Se os brasileiros são essencialmente trabalhadores, o que deu errado? O pensamento vira-lata das elites desde o fim da escravidão (ou até mesmo antes, mas não vem ao caso) é o maior culpado. Ao invés de qualificar a farta mão de obra existente no Brasil preferiu importar alemães, italianos, polacos, entre outros. O governo incentivou a vinda destes com salários expressivos, farto crédito a produção e apoio técnico.  Assim não teria como eles não prosperarem, mas, como a história comprova, essas medidas tiveram alcance limitado, justamente porque a grande massa continuaria sem qualificação e parte acabou voltando aos seus países de origem.

No inicio do séc. XX, este tipo de pensamento começou a declinar. A entrada de estrangeiros foi dificultada, compensando-se com a universalização do ensino e qualificação técnica da população. Já no fim do mesmo século, a qualificação técnica foi abandonada, chegando a seu ápice no fim do ensino médio técnico, no governo Fernando Henrique Cardoso, e os gargalos voltaram a se agravar.

Soluções mágicas para problemas complexos nunca deram certo e não são meia dúzia de estrangeiros que vão resolver o problema crônico do povo brasileiro, certo senhor Ministro? Espera-se no mínimo a retratação do governo e a priorização da qualificação da mão de obra brasileira. Mas como o brasileiro não está acostumado a valorizar seu próprio povo, a solução mais rápida será trocar Moreira por um alemão; depois trocamos o povo todo.