O ministro da Secretária de
Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco, teve nesta terça-feira uma idéia
sensacional que dividirá a história do
Brasil em antes e depois de Franco. O mesmo afirmou que para compensar a
escassez de profissionais qualificados, especialmente nas áreas técnicas, é
necessário facilitar a vinda de estrangeiros gabaritados para o país. Bingo! Não
sei por que ninguém pensou nisto antes. Veja aqui a matéria completa.
Antes de tudo, fazer uma
afirmação dessa natureza deveria ser um caso de demissão sumária sem direito a
defesa, quiçá, extradição para Antártida. Esse é um clássico caso de complexo
de vira-lata descrito muito bem no livro de Aurélio Schommer, História do
Brasil Vira-Lata, que apesar de inúmeros defeitos serve muito pra explicar este
tipo de pensamento.
O complexo de vira-lata consiste
basicamente na idéia de que o Brasil é “uma terra abençoada por Deus, mas o
povo...”, povo este formado por portugueses oportunistas, escravos
desqualificados e índios preguiçosos. A verdade é que os brasileiros nunca
foram preguiçosos, visto tamanho trabalho de transformar uma terra selvagem
descoberta em 1500. O oportunismo português uniu as terras americanas ao resto
do globo, como também ampliou o território brasileiro acabando com o Tratado de
Tordesilhas. Nem necessito descrever o quanto trabalharam negros e índios.
Se os brasileiros são
essencialmente trabalhadores, o que deu errado? O pensamento vira-lata das
elites desde o fim da escravidão (ou até mesmo antes, mas não vem ao caso) é o
maior culpado. Ao invés de qualificar a farta mão de obra existente no Brasil
preferiu importar alemães, italianos, polacos, entre outros. O governo
incentivou a vinda destes com salários expressivos, farto crédito a produção e
apoio técnico. Assim não teria como eles
não prosperarem, mas, como a história comprova, essas medidas tiveram alcance
limitado, justamente porque a grande massa continuaria sem qualificação e parte
acabou voltando aos seus países de origem.
No inicio do séc. XX, este tipo
de pensamento começou a declinar. A entrada de estrangeiros foi dificultada, compensando-se
com a universalização do ensino e qualificação técnica da população. Já no fim
do mesmo século, a qualificação técnica foi abandonada, chegando a seu ápice no
fim do ensino médio técnico, no governo Fernando Henrique Cardoso, e os gargalos
voltaram a se agravar.
Soluções mágicas para problemas complexos nunca deram
certo e não são meia dúzia de estrangeiros que vão resolver o problema crônico
do povo brasileiro, certo senhor Ministro? Espera-se no mínimo a retratação do
governo e a priorização da qualificação da mão de obra brasileira. Mas como o
brasileiro não está acostumado a valorizar seu próprio povo, a solução mais
rápida será trocar Moreira por um alemão; depois trocamos o povo todo.